segunda-feira, 12 de abril de 2010

Porque, como e quando transferir

A velha história sobre o fim do casamento entre a família do bebê e a equipe médica voltava a acontecer... Igualzinho havia acontecido com os pais do Lucas, vocês lembram? Nem a equipe da UTI nos aguentava e nem nós aguentávamos mais aquele lugar!
Eles queriam operar a Bebel a qualquer custo. Não acreditavam na sucção dela. Ela ocupava um leito. Ela dava trabalho. Os pais dela davam trabalho. A fono particular que os pais contrataram dava muito trabalho. Então, para que manter aquele bebê em uma UTI Neonatal, se ele sequer era um recém-nascido? Sim, após 70 dias de vida o recém-nascido se transforma em lactente. E isso faz toda a diferença em lugares como o que a Izabel estava.
Então, junto com a equipe médica, decidimos que o melhor seria tentar a transferência para um hospital particular. Acionamos novamente todos que poderiam ajudar. Mas o contato imediato teria que ser feito pela Neotin. E eu fazia questão de lembrá-los disso diariamente.
A dúvida era para onde iríamos nos mudar com a Izabel? Então, comecei a fazer buscas diárias sobre hospitais pediátricos. Como funcionava? Aceitava profissionais particulares como terapeutas das crianças internas? Qual era a estrutura do hospital? Eu poderia mesmo ficar internada junto com minha filha? Havia UTI? Era melhor irmos para uma UTI? Nossa! Tantas questões tiveram que ser vistas cuidadosamente...
Perguntei para a equipe da Neotin e para o Dr. Antônio José (pediatra que fizera o parto da Izabel) qual era o melhor hospital pediátrico e a resposta foi unânime: Centro Pediátrico da Lagoa. Então, estava resolvido. Não sabia quando, mas era para lá que eu iria com a minha filhota!
Mexemos uns pauzinhos aqui e outros ali até descobrirmos que o atual pediatra da Izabel, amigo de infância de meu pai, tinha fortes elos com a equipe de lá. Pedimos uma força. E a força foi dada. Além de solicitar a vaga reportando a necessidade da transferência, o contato estava feito e o canal era direto entre eu e a nova equipe que estava prestes a entrar na minha vida. Aliás, foram tantos contatos neste hospital que eu parecia uma maluca ligando para diversas pessoas, pedindo, explicando repetidas vezes o que estava acontecendo. Falei com a Dra. Maria Regina diversas vezes e nem poderia imaginar que ela, além de principal alicerce para a alta da Bebel, viria a ser sua Neuropediatra no futuro. As coincidências da vida podem ser prazerosas e únicas. Acredito que quando certas coisas têm que acontecer, elas simplesmente acontecem. Tanto no lado positivo, quanto no lado negativo. E desde que minha filha nascera, era o primeiro período onde TUDO, absolutamente tudo, começava a dar CERTO.
O Centro Pediátrico da Lagoa fica no Jardim Botânico, Rio de Janeiro. Local de fácil acesso para as pessoas mais próximas a mim e ao meu marido. Era um hospital só para crianças. Na verdade ele é a extensão da maternidade Perinatal, pois, se não me falha a memória, pertence ao mesmo grupo. Moderno, equipado e com os melhores profissionais do mercado. Tinha até uma área de lazer no terraço...
Após duas semanas com inúmeros telefonemas pedindo urgência para a transferência, conseguimos a vaga. Finalmente estávamos prestes a virar mais uma página com a nossa pequena. Era verdade! A vaga foi dada e a transferência marcada com a equipe de remoção. Iríamos na terça-feira, dia 14 de outubro. Comecei a organizar as coisas. Tinha tanta coisa para pensar. Tudo o que a Bebel poderia precisar. Não queria que faltasse nada. Trocador, cueiros, mantas, fraldas descartáveis, fraldas de pano, bichinhos de pelúcia, um monte de roupinhas lindas que ela ainda não tinha usado, travesseirinhos, bomba tira-leite, mamadeiras, bicos de diversos tipos, chupeta, bebê conforto, enfim, tudo o que pode ter em um enxoval de bebê.
Foram umas 5 bolsas cheias de coisas da Izabel e, com elas, fomos nós. Cheguei ao hospital de manhã cedinho, quase junto com a ambulância. Na despedida da UTI também teve emoção. As enfermeiras, as mães e até os médicos. Toda aquela gente presente desde o comecinho. E por mais que tivéssemos tido os nossos problemas, tenho muito que agradecer a eles. Afinal, eles estabilizaram a vidinha do meu bebê. Cuidaram dela dia e noite. Mas nossa hora realmente tinha chegado e - para o bem de todos - o melhor era partir.
“Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...”
Estávamos partindo para um novo mundo de buscas e realizações. Nós tínhamos que tentar. A Deise necessitava concluir seu trabalho. A Izabel precisava mais do que todos sair daquele lugar estressante, que não mais a pertencia. E nós fomos felizes, mas apreensivos com a novidade. O que nos esperava?
Fomos transferidas em uma ambulância de UTI Móvel. Eu sentada na maca, afivelada por um cinto de seguranças e ela no meu colo, nos meus braços, com seu macacãozinho que fazia conjunto com um body cor-de-rosa que havia sido dado pelo meu pai, coisa mais linda do mundo, sem nenhum equipamento. Adeus aos equipamentos de UTI. Eu podia sentir por ela a liberdade de não estar aparelhada.
Ela chorou nos primeiros instantes, mas acalmou e dormiu. A ambulância corria e meu marido corria mais ainda na frente. A pressa era tão grande que enaltecia o medo que estávamos sentindo. Será que essa seria a melhor escolha? Estávamos prestes a descobrir...



Esta foi a última foto da Bebel com bigodinho para prender a sonda na UTI!

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